segunda-feira, 29 de novembro de 2021

Céus de Outono

Os pássaros pousados nos cabos de alta tensão lembram claves de sol. Um alinhamento prolongado, quase mudo, de notas e palavras que conjuram histórias, das que importam, vividas, contadas, que roubo para mim. Uma constelação de pensamentos soltos, declinações esquadradas que moldo à minha vontade, na lentidão morna do tempo que me sobra. A chuva calou-se deixando no céu um rastro lustroso como um espelho de água. Corre, num fio fino, uma linha recta mesmo acima do horizonte, absurdamente paralela, sobre a qual o vento dourado fez pousar nuvens encaracoladas como espuma, cujos reflexos tombam, invertidos, numa simetria tão perfeita que é quase irreal. Os céus mais bonitos são os meus; os de Outono.