“Conseguir
que o mestre de aritmética me mostre como realizar a quadratura de um triângulo
(…) Perguntar a Benedetto Protinari de que maneira caminham sobre o gelo na
Flandres (…) Observar a pata do ganso: se estivesse sempre aberta ou sempre
fechada, o animal não seria capaz de efectuar qualquer movimento (…) Descrever
a língua do pica-pau (...) Ir todos os sábados às termas para ver homens nus.”
Leonardo
da Vinci morreu há tempo suficiente para eu poder dizer que o adoro. Esgotou-se
o prazo para a desilusão, sem direito a recurso. Adoro-o. Comecei a ler a biografia
que lhe escreveu Walter Isaacson, e tem sido difícil arrancar-me de lá. São vários os livros de onde é difícil arrancar-me, também é verdade; sou muito fácil de
sepultar entre linhas bem escritas e estórias de encantar. Até de desencantar,
se quem escreve merece. E escreve Isaacson que o ponto de partida para o livro
não foram as obras-primas de Leonardo, mas os seus cadernos. Sinto uma pontinha
de inveja. Mentira, sinto uma inveja enorme. Mergulhar na loucura curiosa, obsessiva e íntima, dos cadernos de da Vinci.
Ainda
estou no início e já adivinho uma história de amor.