Roubei um título, uma história e uma obra de arte.
Vi
pela primeira vez A Lista de Schindler no cinema, quando estreou em
Portugal. Fiz um esforço enorme para não chorar. Enorme. O tempo todo. Quando o
filme acabou, tinha marcas profundas, encarnadas, das minhas unhas cravadas nas palmas das minhas
mãos. Sei que é um mecanismo de defesa inconsciente quando preciso de controlar
emoções violentas.
Uma
das cenas que mais me marcou – posso recordá-la vivamente de memória – é
protagonizada por Ralph Fiennes: em tronco nu, numa (outra) manhã qualquer,
Amon Leopold Göth assoma à varanda da sua casa, com vista privilegiada para
o campo de concentração nazi de Plaszow. Agarra na espingarda, observa a
azáfama dos condenados, ajusta a mira da arma e escolhe a primeira vítima.
Pousa o cigarro e aponta certeiro à mulher agachada no chão. Assim que ela se
ergue, dispara a matar. Recolhe, indolente, o cigarro pousado no muro e, entre
duas passas, escolhe uma segunda vítima. Aleatoriamente, sem qualquer critério
especial. Apenas porque pode e porque isso lhe dá gozo.
Quando
vejo imagens do líder do Chega, nos palcos das suas imensas vaidades, de joelhos no chão
e braço estendido fingindo que faz-e-não-faz a saudação nazi, não sei se me repugna
mais a imbecilidade ou a cobardia. Será a imbecilidade. Até a cobardia exige uma certa têmpera.