terça-feira, 22 de fevereiro de 2022

A ampla janela da biblioteca está voltada para o mar. “La mar, que é o que o povo lhe chama em espanhol, quando o ama”. Para o dorso do mar, não para o mar que se esvazia na praia, entre espasmos brancos de espuma. É o mar que parece um imenso lago de seiva metálica, ao fim da tarde, quando a tarde repousa sem sobressalto e o sol, morredoiro, varre as ondas do visível. Se não desviarmos os olhos daquela língua de água, vemos entardecer todos os tons de cinzento: a prata, o estanho, o mercúrio sedoso, denso, o chumbo baço sustentando a noite. Há noites em que a ampla janela da biblioteca se abre para a lua cheia, vestida de gala, e até o luar parece perfumado. É um bom lugar para fugir do mundo.