sexta-feira, 25 de fevereiro de 2022

Apanho-a a chorar num canto da escada. Um choro seco, silencioso, que se percebe apenas pelo tremer espaçado do corpo quando se deixa escapar um soluço sufocado. Conheço-o bem.

Tem uma irmã na Ucrânia e outra na Rússia. Percebo que disse à irmã que vive na Ucrânia com o marido e o filho que fugisse, que viessem para cá, mas que já não conseguiram sair, com estradas bloqueadas e aeroportos fechados. Fala mal português. Vive em Portugal com a filha e não precisa de falar português para limpar capazmente uma escada. Pergunto se posso ajudar, se quer que ligue à filha, se a levo a casa, qualquer coisa que me faça sentir menos inútil. Pede-me que reze, e não tenho coragem de lhe dizer que há muito que deixei de rezar.