Chego
atrasada ao último, como me acontece tantas vezes. Além disso, a primeira vez
que o ouvi foi pela voz da extremamente desagradável Joana Marques, e o humor
há-de ser sempre humor: mesmo que, por vezes, retrate fielmente a realidade, é
preciso ir mais fundo na questão quando a questão merece. Não fui; não sei se
merece.
Não
percebi se a anormalidade da coisa não será a coisa em si: um programa pensado
para obter o máximo de audiências explorando o conflito mais esgotado e rasteiro
entre semelhantes, onde todas as fragilidades são exaltadas, devassadas, em
nome dizem que do entretenimento; e grande parte do entretenimento desespera, sofregamente, pelo emergir da injúria: quanto mais indecente melhor.
Mas,
no que toca a escândalos, houve coisas piores nos últimos dias. Com a agravante
de terem sido transmitidas como notícias, e não como um subproduto do divertimento.
A saber, a cobertura jornalística dispensada ao socorro do menino marroquino –
que acabou na tragédia que se sabe –, ou ao estranho caso do atentado que não
chegou a sê-lo.
Para
que não se pense que sou uma criatura insensível sem cura nem alento:
A
violência sobre mulheres e crianças é o crime dos crimes, de onde eu vejo os
crimes. É aquele crime que me faria vacilar na rejeição à pena de morte. Se fosse uma pergunta de sim ou não. O
crime para o qual desejo que, a existir um Inferno para lá da morte, venha
devidamente equipado do tal lugar especial, não necessariamente para mulheres
que tratam mal outras mulheres, mas para todo o género de não-gente capaz de se
fazer valer do seu lugar de poder para destruir e humilhar.
Do atentado e evitado. Acho admirável – acho mesmo admirável – o trabalho da Polícia Judiciária; ter sido capaz de localizar um suspeito com base na informação que, entretanto, se tornou pública e, com isso, ter impedido um eventual "ataque". O que se diria se a PJ não tivesse "neutralizado" a ameaça de ameaça, na posse daquela informação. É tudo depois disso que se me faz incompreensível, da entrevista ao avó do desgraçado rapaz, à quantidade de especialistas que vários canais de informação – da apregoadamente séria, responsável, enfim, um sem fim de banalidades sem verdade, na verdade – podem parir, em horário nobre, menos nobre e assim-assim.
E há o escândalo da água que sobra em Paços de Ferreira, onde os comerciantes desperdiçam água – "deitam-na fora", deitam-na mesmo fora – para não serem obrigados a pagar uma tarifa máxima de saneamento. É mais que um escândalo, é um crime, outro crime, que, aparentemente, importa pouco a todas as partes.