Pertenço
àquele género de gente que raramente (um raramente a ameaçar um nunca,
que só não digo ou não escrevo porque nunca e sempre são estados de ser e de
estar que se devem, e talvez agora usasse um sempre, evitar) é capaz de
recordar o que sonha. Enquanto durmo, pelo menos.
Estou
razoavelmente segura de que alguma ciência explicará esta minha incapacidade
crónica, mas receio procurá-la. A explicação. Não me apetece correr o risco de
descobrir-me menos interessante ainda do que possam pintar-me outros olhares e o meu
próprio, e um pequeno pedaço de ilusão (não sei se) nunca fez mal a ninguém.
Não
interessa nada.
Certo, certo é que, mesmo sem recordar os sonhos – ou sem sonhá-los de todo –, algum resto de inconsciência deve permanecer vivo; vívido. Deve ser o que explica, por exemplo, por que há músicas que não me largam o dia inteiro, mesmo que já nem recorde a última vez.