terça-feira, 1 de março de 2022

A Paz a qualquer preço?

Quando se diz (quando eu digo) que Vladimir Putin é louco, não se quer dizer (eu não quero dizer) que o presidente russo não sabe o que faz; que não seja um tipo esperto ou um perspicaz estratega, um exímio jogador de xadrez político, e outros predicados que lhe dedicam, sem esconder o enlevo, os últimos enamorados do czar: o poder não seduz apenas quem o pode exercer, mas também aqueles que, não podendo (não “querendo”, também se aplicará, seguramente), aspirar a ele, suspiram ante a visão do exercício musculado do poderio alheio. 
O que se quer dizer (o que eu quero dizer) é que há uma loucura estratégica, gulosa, inteligente, evidentemente, e tão inteligente quanto implacável, que olha a poucos meios para atingir um fim. Vladimir Putin, não é o único, mas é um desses loucos.

O que eu percebo (é um eufemismo) de guerra, de estratégia militar, de geopolítica, de tudo e mais alguma coisa do que se tem falado nestes últimos dias é menos que nada. Vários degraus abaixo de zero. Por isso, tudo me espanta. Nem sequer sou capaz de sentir medo. Espanto e Desolação. É só. É demasiado. Junto-me, assim, ao coro dessa gente indecente que tem convivido bem com outras guerras por esse mundo fora, da Sérvia ao Iraque, da Palestina ao Afeganistão, tão indecente, tão indecente, que nem serei capaz de enumerá-las todas, sem esquecer a maior simpatia que nutro por um regime democrático, os EUA como a cabeça do monstro, do que por outros regimes mais amigos da ordem social manietada. Menos mal que ainda nos sobra gente que nunca perde o rumo, ou o mundo seria um lugar ainda mais terrível.

É espantoso que Kiev resista. Que os ucranianos resistam. Da coragem dos que partem para salvar os filhos, à coragem dos que ficam para salvar o país. E é evidente, até para mim, que não deve ser porque as tropas russas não tenham capacidade para vencer aquela resistência. Também me parece evidente que ninguém – não apenas Vladimir Putin – esperava que o Presidente da Ucrânia (não é a Putin que devemos agradecer, de repente, a união da União Europeia: é a Zelensky) se revelasse um verdadeiro líder, e é muito difícil perceber o dia seguinte. A hora seguinte. Como é que pode Vladimir Putin vir a perder a guerra? Como é que pode vir a ganhá-la? Como pode, a Ucrânia, outra coisa qualquer que não seja capitular?