“À
noite, voltou a chover. Esteve a ouvir o borbulhar da água durante muito tempo;
depois deve ter adormecido porque quando acordou já só se ouvia uma chuva
miudinha. Os vidros da janela estavam embaciados e, do lado de fora, as gotas
resvalavam em fios grossos como lágrimas. “Via cair as gotas iluminadas pelos relâmpagos
e, sempre que respirava, suspirava e sempre que pensava, pensava em ti, Susana.”
A chuva transformava-se em brisa. Ouviu: “O
perdão dos pecados e a ressurreição da carne. Amén.” Isso era cá dentro, onde
as mulheres rezavam o fim do rosário. Levantavam-se; fechavam os pássaros; trancavam
a porta; apagavam a luz.
Só permanecia a luz da noite, o ciciar da chuva
como um murmúrio de grilos…”
Pedro Páramo
Juan Rulfo