Em
teoria é possível pensar que a Ucrânia tenha encenado tal teatro de horror indizível? Suponho que sim. Na guerra, dizem, não vale tudo, mas parece que quase. O que têm feito os defensores mais descarados ou
menos descarados de Vladimir Putin é usar e abusar de todas as teorias: duas
linhas de Direito Internacional, evocar horrores de outras guerras, da Líbia ao
Iraque – sempre o Iraque e muito bem o Iraque, que, sim, deve continuar a
assombrar e a envergonhar todos os que, como eu, preferem, nesta loucura, ficar
ao lado dos EUA e da EU contra Putin, inequívoca e inquestionavelmente contra
Putin – mistura-se muito bem, shaken not stirred, que a vida é um ensaio
permanente, um filme de enredos obscuros e os argumentistas capazes de todos os
delírios, e voilà, propaganda de guerra para os que gostam de pensar pela própria cabeça de Vladimir Putin. Não se diz tanto de como a realidade pode superar a
ficção? Portanto, suponho que sim, que, em teoria, todos os canais de informação e os seus actores, por esse mundo fora, excepto os que prestam contas ao Kremlin, evidentemente, embarcaram na propaganda ucraniana e, em teoria, a Ucrânia pode ter encenado
Mariupol primeiro e Bucha depois. Faz muito mais sentido duvidar de Zelensky do
que duvidar de Putin. Putin é um incompreendido tão incompreendido que, não
raras vezes, vê-se obrigado a envenenar opositores políticos, encarcerar quem ousa
manifestar-se contra o seu pulso de ferro, mas conciliador, sempre muito conciliador,
proibir que se diga “guerra” ou “invasão”, perseguir jornalistas, activistas e
todos os que hesitem em alinhar-se para o beija-mão, todos os que se atrevam a
questionar não só o seu direito à “legítima defesa preventiva”, como o modo
decidiu levar a cabo esse direito à “legítima defesa preventiva”.
Esta
entrevista de Alexandre Guerreiro e este "artigo" do Major-General Raúl Cunha,
são dois tratados de clarividência comovente. Acaba-se de ler aquilo e dá
vontade de mandar cada um daqueles senhores para a terra dele. A do senhor
Putin. Vive-se por lá tão bem, livre e informadamente.