sábado, 16 de abril de 2022

"A dor que nega o que já está acontecendo, em conflito com os próprios olhos, Maria Clara arrasada com a dor de Marcelino, o coração dele em derrocada e as pedras pretas do tamanho de punhos vinham estilhaçar-se na garganta embargada dela, e saiam-lhe em estado líquido, numa correnteza de lágrimas,

    como a cachoeira nos dias bons.

E às vezes as pedras eram tão duras, tão ásperas, tão difíceis de diluir, que à passagem arrastavam consigo as memórias de Maria Clara, mulher vivida, repassada, estriada por um rio longínquo e muito abandono."

Não se pode morar nos olhos de um gato

Ana Margarida de Carvalho


Há duas novas mulheres na minha vida. Uma é Elise LeGrow, a outra é Ana Margarida de Carvalho. Não sei por onde andariam elas, por onde andaria eu, para que tenha tardado tanto em descobri-las. Não importa. Suponho que haja encontros tão urgentes que dispensam a vulgaridade do imediato, o seu tempo é sempre o certo.