sexta-feira, 1 de abril de 2022

Roubei um tempo só para mim, roubo muitas vezes um tempo só para mim, e fui ver o mar longe de casa, muito longe de casa, desde o cimo da serra, pela estrada de corpo ondulado, de escamas palpitantes à luz destilada das manhãs de cinza. As manhãs de cinza são as piores manhãs para ver o mar do cimo da serra, quase não se vê o mar do cimo da serra, mas ver o mar do cimo da serra é apenas um pretexto. O que me apetece é a estrada sinusoidal que se contorce em esforço até ao topo, dois degraus abaixo do céu, roçando a rocha e a erva rasteira a ameaçar-se de cores da Primavera. Gosto de correr com ela, subi-la, senti-la, soletrar-te, outra vez, por um instante roubar-te como roubo o tempo que quero só para mim.