Sou
escrava do meu trabalho. Sou totalmente escrava do meu trabalho. Os últimos
dois meses em particular têm sido uma loucura de que dou conta a pouca gente
porque é coisa realmente indecente, o número de horas que cumpro escrupulosamente
mergulhada em coisas chatas, e fórmulas e leis e contas e reactores e reagentes, números reais, outros imaginários, e que só não se tornam insuportáveis porque,
um, adoro o que faço (provavelmente, porque não sei fazer outra coisa), dois,
não tenho chefe (ou tenho, mas sou eu mesma, logo, aturamo-nos razoavelmente bem na maior parte dos dias), três, quando acabar, se não me acabar, tenho os
dias de férias que mereço e alguns dos que não mereço também, quatro, entre
todas as outras coisas imprescindíveis à vida que vale a pena ser vivida, pelo
menos daquelas coisas que o dinheiro pode comprar, é o meu trabalho que me permite
viajar. E eu preciso de viajar.