sábado, 22 de outubro de 2022

País pobre, pobre País

“São casos de necessidade que dão muita pena. E quando assim é, não costumamos chamar a polícia”, “Temos apanhado muitos idosos a tentar levar pão, salsichas ou atum. Há pouco tempo vi um idoso a tentar roubar batatas e uma senhora de idade a esconder pastéis de bacalhau no bolso. Quando a abordei, pediu muita desculpa e explicou que tinha fome. E há mulheres com filhos que dizem que já não têm como lhes dar de comer. É muito triste. Chego a dizer-lhes: ‘Prefiro que me peçam. Não sou rico, mas posso oferecer alguma coisa.’ E eu próprio vou à caixa pagar”

 

Creio que nunca como hoje Portugal me pareceu um país tão falido. Nem sei bem como olhar para aquela reportagem do Expresso – são retratos de miséria a vários tons. Deve ser real e dramático o aumento do número de bens alimentares básicos roubados nos supermercados porque é preciso qualquer coisa mais que coragem para expor prateleiras onde as garrafas de azeite são protegidas como fino whisky e as latas de atum são guardadas em caixas de acrílico anti-roubo.

E, aquele parágrafo, ainda o tenho às voltas no estômago.

Os números da Pordata sobre a pobreza em Portugal são esmagadores: sem apoios sociais, mais de quatro milhões de pessoas são pobres ou têm rendimentos abaixo do limiar da pobreza. No mesmo país da “querida tecnológica” de Paddy Cosgrave, do paraíso fiscal para reformados ricos e muito estrangeiros, mesmo que a nossa nacionalidade se venda como a ginjinha do Rossio onde, por agora, vivem ao relento um sem número de timorenses atraídos por promessas de trabalho escravo, enquanto se pensam estratégias para atrair nómadas digitais e se ensaiam modelos para a semana de quatro dias de trabalho.