Cumprindo
uma mui nobre premissa da liberdade de expressão, que deve nortear todas as outras
em qualquer regime democrático, a SiCNotícias tem dois convidados de luxo, ou
de lixo, que, de quando em quando, chama a estúdio para que digam de sua
justiça: o senhor Guerreiro na apaixonada defesa de Vladimir Putin e a sua
bárbara demanda na destruição da Ucrânia nazi, e um tal de Amaral Pessoa
(filho; dizem-me que também há um pai da mesma armada), empenhado na exaltação do Messias
Bolsonaro como o último dos representantes dos brasileiros de bem.
Na
noite das eleições presidenciais no Brasil, nos estúdios da SIC, o senhor Amaral
Pessoa filho, desencantado com a vitória de Lula, falava abertamente da não aceitação
do resultado das eleições enquanto não o validassem as Forças Armadas – como se
sabe, são as Forças Armadas que validam resultados de eleições em países democráticos
–, convencido, suponho, de que essas Forças
Armadas liderariam ou suportariam uma rebelião contra o presidente eleito. Desta
vez, veio dizer que as manifestações que vimos em Brasília são actos constitucionais
e que a situação vai piorar porque o “brasileiro de bem” não vai aceitar um
bandido a governar um país, e, claro, voltou a acenar com a fraude do processo eleitoral.
Deve haver apoiantes de Bolsonaro piedosamente convencidos dessa fraude eleitoral, da miserável desgraça que lhes afastou o salvador da nação – provavelmente, aqueles que apelam, em desespero, à intervenção extra-terrestre, com as luzinhas dos telmóveis voltadas para o céu, Bolsonaro fez muito bem o trabalho de casa –, mas não é, seguramente, o caso de gente como Amaral Pessoa. Talvez Ricardo Costa tenha pisado o limite das boas práticas jornalísticas, mas antes isso do que deixar passar, sem uma nota de indignação, uma série de mentiras que pretendem apenas minar a confiança na Democracia e nas suas Instituições: digam de uma vez e sem rodeios, os Amaral Pessoa que por aí pululam, que a Democracia só lhe interessa como rampa para o poder: depois disso, o que anseia a "gente de bem" é varrer da sociedade todas as anomalias que ameaçam a santíssima trindade Deus, Pátria e Família, e, talvez o zelador e a faxineira. Todos os outros são incómodos e, por isso, descartáveis.
Dói-me, este Brasil.