Gosto
de gente capaz de dizer basta. Essa teoria muito bíblica de dar a outra face e
amar os nossos inimigos não faz bem o meu género. Evito comprar guerras miúdas,
posso exercer com enorme dignidade e a bem da minha paz de espírito o exercício
do ignoramento, mas, com pouca gente e por pouco tempo – devia acrescentar-se
ao ditado; para tudo há um limite, e quem cala não consente tudo, mas há calar
e calar, consentir e consentir.
Este breve solilóquio a propósito de José Pacheco Pereira e João Lemos Esteves. O primeiro, para o bem ou para o mal, dispensa apresentações. O segundo, mais para o mal, foi professor assistente na Faculdade de Direito
na Univesidade de Lisboa; não nessa qualidade mas enquanto nessa qualidade,
inventou, escreveu e publicou no jornal Sol, where else?, uma calúnia
em forma de artigo, visando José Pacheco Pereira: este seria um agente a mando
do Governo do Irão, a quem os ayatollahs mimavam com luxos e privilégios
vários a troco de uma espécie de consultoria e etceteras que cabiam
apenas na imaginação injuriosa de João Lemos Esteves – era a “liberdade de
expressão” do senhor professor de Direito na versão colunista a funcionar. José Pacheco Pereira exigiu provas da liberdade que Esteves expressava e, como não
existissem, o caso seguiu com uma queixa-crime.
O
ex-professor, ex-colunista e, agora, caluniador assumido, confesso e condenado, apresentou-se
em tribunal, munido de um rol de vinte testemunhas, entre as quais, Donald Trump e Michael Pompeo: se é para sonhar, que seja em great, como n'América daquele outro senhor, desculpando o termo.
A montanha de invenções pariu um rato careca, e João Lemos Esteves foi obrigado a admitir a infâmia e a ler um delicioso desmentido que começa assim: "Afirmo publicamente não corresponder à verdade tudo o que escrevi sobre a relação de José Pacheco Pereira com o Irão num artigo publicado no jornal Sol de 9 de Janeiro de 2021, que acabou por ser republicado em várias publicações anónimas", além de ter sido condenado a pagar uma indemnização a Pacheco Pereira; e Pacheco Pereira, ao zelar pelo seu nome, exerceu, também, um rigoroso acto de serviço público – será uma pequena gota na oceano da liberdade da calúnia, mas é qualquer coisa.