Fui vê-los. Era uma promessa por cumprir, e só isso teria bastado. Depois, como diz outro amigo, porque parece haver sempre qualquer coisa por descobrir. Quarenta e tal anos e, afinal, é sempre e apenas um ontem. Como reler um clássico, voltar, sim, aos lugares onde já fomos felizes, um Bolero de Ravel, amar-te todos os dias, um cardume de pássaros de guelras brilhantes nas asas, voluteando em espiral como confetti de festa.
"Gahan é uma garça a mexer-se: é ginga, gangster e bailarino, é mestre de cerimónias e sex symbol a fazer simulações provocantes, é um monstro de palco sem idade", escreveu-se. E é. E foi. E Martin Gore é outra coisa qualquer espantosa de que me lembrava pouco; lamento não me ter atrevido também a gravar o seu "Strangelove" acústico (não propriamente angélico, mas despido, e lento, e belo), mas sou do tempo do cinema sem pipocas e dos concertos sem telemóveis – quais filhos, é isto que me põe velha.
Nem sou muito destes concertos; uma mole de gente arrebanhada, aos pulos, a tresandar à vulgaridade do espectáculo de massas, comercial e afins, e, com excepção de que não pulo nem grito (pelo menos, entre desconhecidos), foi tudo fantástico. Memento Mori, e faço por não esquecer.
Ainda hei-de vê-los em Berlim, parecem-me sempre mais felizes nos concertos em Berlim.