terça-feira, 16 de abril de 2024

Em Decomposição

O país mudou, o mundo mudou, tanto e tão vertiginosamente, que é sensato escolher a ruína a que nos entregamos. Podemos seguir as “polémicas” caseiras – ninguém, do primeiro ao quarto poder, parece minimamente preocupado com o estado de coisas que não sejam as suas, comezinhas –, discussões circulares, miseravelmente estéreis, como o cão que tenta apanhar a própria cauda, do logotipo esdrúxulo (logotipo é esdrúxulo?), ao “embuste” do IRS e de um jornalismo sensacionalista, ávido de escândalos de alcova: é claro que Luís Montenegro e Miranda Sarmento foram intencionalmente vagos e omissos, como é claro que quem assinou aquela notícia do Expresso, mais o seu director João Vieira Pereira, foram, no mínimo, de uma ingenuidade amadora e confrangedora – aquela “nota do director” é risível.

Entretanto, Passo Coelho, barítono, unívoco, imolou o ministro do irrevogável. Com que intenção ninguém sabe. Uma pequena vingança. O recato acabou com estrondo e promete. Dá uma boa teoria da conspiração: Passos Coelho  quem sabe, umas dessas forças vivas que prometeu o colo a André Ventura  apostado em minar o terreno por onde se move a AD de Luís Montenegro, e o país em eleições lá para Novembro.

Há um mundo a ruir. Não sobreviverá a Novembro. Donald Trump, ganhe ou não as próximas eleições nos EUA, é o epicentro do terramoto, e não há pontos nem portos seguros. Ainda me espanta; tanto quanto a impossibilidade de os Democratas encontrarem outro candidato a presidente. Parece que Joe Biden é o melhor, diz quem percebe do assunto. Quem não percebe, não acredita. Mas não importa: ainda que Biden volte a vencer, a América perecerá, e, com ela, o nosso mundo. Acordaram a Besta, alimentaram-na. Donald Trump não vai aceitar outra derrota. O infame 6 de Janeiro parecerá um passeio no parque. E se Donald Trump ganhar? Como será um segundo mandato de Trump?

Israel promete responder ao ataque do Irão. Retaliação sobre retaliação. Outra boa teoria da conspiração. Israel vinha a enfrentar duras críticas sobre a forma como vem dizimando o povo palestiniano em resposta ao hediondo ataque do Hamas. O ataque do Irão, como resposta ao ataque de Israel à embaixada iraniana em Damasco – é nisto que andamos, jogos de guerra em directo –, reconciliou os aliados de Israel com o horror que grassa na faixa de Gaza. Tenho sentimentos contraditórios sobre tudo isto.

E já pouco se fala sobre a miséria da Ucrânia. Donald Trump entregá-la-á de bandeja a Vladimir Putin, se ganhar as eleições nos EUA.

Consola-me pensar que, se tudo correr menos mal, pelo menos, viverei tempo suficiente para ver morrer alguns destes homens maus.