Uma
punição colectiva é, no mínimo, o que Benjamin Netanyahu está a executar em
Gaza, sob o olhar complacente do superior Ocidente, porque os Direitos só são
Humanos quando os humanos são dos nossos. Não sei se chama genocídio àquela
orgia de morte e destruição, mas o nome não importa muito: é uma matança sem
freio que ultrapassou há muito o direito à defesa.
No
princípio, não parece muito diferente de arrombar apartamentos para agredir
imigrantes se há (há?) imigrantes a aterrorizar a vizinhança. A diferença entre
uma tragédia e uma estatística, diria não se sabe bem quem, mas com o mesmo
cinismo com que acomodamos o terror aceitável: Israel está no seu
direito de dizimar cidades inteiras, mandar evacuar populações inteiras, encurralar,
matar tudo o que mexe, porque há um agente do Hamas em cada sopro que resista.
Israel foi alvo de um ataque hediondo, e é impossível imaginar o terror de ser agredido e feito refém por uma organização terrorista como o Hamas; Israel deve poder proteger-se, seria esmagada se não o fizesse, e terá tanto de hipócrita como do mais intrinsecamente humano sentir mais empatia com a tragédia daqueles que nos são mais próximos – suponho que no modo de vida também –, mas a culpa ou a falta dela não são um detalhe geográfico, um pionés no mapa mundi, o Mundo tem de estar muito doente para assistir e aceitar a vingança como forma de justiça, só porque a vingança é dos nossos, é amiga. Não sou deste Mundo. Não é possível clamar contra a Rússia, gritar a Vladimir Putin que retire as suas patas assassinas da Ucrânia e continuar ao lado de Benjamin Netanyahu no seu ataque predador – denunciá-lo é o que tem a ver com a defesa dos “valores ocidentais”, não o contrário.