Mas sem o glamour da sétima arte, porque Arte é coisa que escapa aos palermas, como se percebe, não só pela necessidade de recorrer a insultos do tempo da minha tetravó, mas também (e talvez mais) pela alarvidade de riso que ainda (lhes) provoca. Alegadamente...
Não tinha percebido bem o alcance da metáfora no discurso de Isabel Moreira: pareceu-me demasiado – mesmo para alguém capaz de pintar as unhas no decorrer de um debate parlamentar –, apontar a cobardia mole e murcha e pequena daquele grupo de broncos a propósito de uma piada que nem chega bem a sê-lo, idiota, sobre a suposta preguiça dos turcos. Não que eu discorde. Não veementemente, shame one me: a meu ver, já que andamos nisto, merecem-no. Preferia apenas que, naquela Assembleia, estivesse reservado ao chega, assim também em pequenino, aquele tipo de fel. Um programa na rádio Observador depois, talvez o discurso de Isabel Moreira tenha sido uma espécie de desabafo com estrondo.
Acredito
perfeitamente que, naquela mole (a beleza desta nossa língua) de ofendidos, haja gente bem capaz do
insulto mais rasteiro, da piadilha de esgoto – basta ler alguns comentários no Observador dos acérrimos defensores de Ventura e seus lugar-tenentes: mesmo descontando a tal
cobardia mole, supondo que alguns daqueles valentes seriam incapazes (e seriam incapazes, muitos) de dizer cara-a-cara o que ali vomitam letra-a-letra, é espantoso.
Também é espantosa aquela virilidade néscia que ainda encontra graça na desgraça
mais bolorenta: “boa noite, senhora deputada”, para cumprimentar, à hora de almoço, uma
mulher negra, mugidos para tentar ofender uma mulher? Ena.
Com o histerismo e o malabarismo habituais, André Ventura já veio ameaçar com a “queixa-crime”, agora contra Isabel Moreira. O homem não pára. Um milhão e tal de votos depois, o “não é não” de Luís Montenegro enraiveceu o líder do chega. Afastado dos tachos que brilham (não se sabe até quando, é um alarmante facto), André Ventura está empenhado em imundar, nada mais. Mas quem é que é capaz de se sentar com aquilo e conversar sobre o que quer que seja, e menos ainda sobre as soluções de que o país tanto precisa?
P.S. Alertam-me para o facto de o discurso de Isabel Moreira ter mais a ver com a queixa-crime contra o Presidente da República do que com as piadolas do outro senhor. E eu ouvi a parte do discurso onde isso era evidente: por algum motivo, a minha mente fútil reteve apenas a gritaria à volta da liberdade dita de expressão.