André Ventura tem o instinto político de um abutre. O apelo à manifestação das forças policiais junto ao Parlamento, e nas galerias do Parlamento, na data em que será votada a proposta do seu partido para o aumento do subsídio de risco para a PSP e GNR tem o travo da decomposição onde medra o animalismo do Chega. Claro que é um apelo à desordem, uma pensada e propositada tentativa de intimidação. Há quem não veja nisto mal algum, é a democracia a funcionar, encalhados que estamos entre um pensamento único de esquerda e um pensamento único de direita. Salvé os que pensam pela própria cabeça, desde que a cabeça desses pense o mesmíssimo que a nossa. O que não se pode é considerar que há inadmissíveis de ambos os lados do abismo. Julgar, por exemplo, que este artigo roça o injurioso até no título, mesmo rejeitando aquela exaltação culposa, permanente, do nosso passado racista e colonizador; repudiar a violência abjecta do Hamas e criticar a orgia de destruição e morte com que a Israel de Netanyahu pretende legitimar o seu direito à defesa, e Israel tem direito à sua defesa; estar do lado da lei e da ordem e renegar uma justiça que condena uma mulher que mordeu um agente da PSP que a asfixiava, mas não o (ou os) agente da PSP pelo espancamento animalesco dessa mulher, por desobediente – a culpa foi toda sua, evidentemente: não sei se há racismo nisto, mas duvido que haja justiça.