Os mais histéricos apoiantes de Donald Trump – como Marjorie Taylor Greene – acusam os meios de comunicação social e o partido Democrata de promoveram o atentado contra o mestre. É absurdamente anedótico. Donald Trump nunca fez outra coisa que não fosse incitar à violência e ao ódio mais primário contra todos os que lhe recusaram, e recusam, o beija-mão. Escarneceu do ataque sofrido pelo marido de Nancy Pelosi, usou e abusou do insulto e do vil escárnio contra vários dos seus opositores políticos – “crazy Nancy, Sleepy Joe” –, ridicularizou as limitações físicas de um jornalista do New York Times, insinuou que as pessoas da segunda emenda pudessem fazer qualquer coisa para deter a sua então adversária Hillary Clinton: se há um responsável pela degradação do discurso que conduziu àquele acto dramático é o próprio. Se o alvo tivesse sido Joe Biden, Trump teria ensaiado uma qualquer piada despudorada sobre a incompetência do atirador, sob o aplauso alarve dos seus vassalos. É um homem desprezível sob qualquer ponto de vista. Não há qualquer equivalência moral entre aquela criatura e Joe Biden, coisa de uma clareza evidente e absoluta para qualquer pessoa dotada de um mínimo de decência. Deveria ser suficiente, e, no entanto, é de uma ingenuidade confrangedora pensar que seria suficiente, estando em causa a presidência dos Estados Unidos da América em tempos de Apocalipse. É aterrador pensar no que aí vem, seja um segundo mandato de Trump, seja uma segunda vitória de Biden, porque Trump jamais a aceitará. Jamais. E, desta vez, não haverá um Mike Pence para estancar a raiva.
Como não é meu o hábito de rezar, vou, pelo menos, tentar manter-me de dedos cruzados até Novembro.