Há sempre um certo grau vertigem na política americana. Das somas astronómicas que financiam as campanhas eleitorais, ao extremismo radical que elevou Donald Trump. É nessa vertigem, suponho, que cabem a atenção e o capricho que alguns de nós dedicamos àquele palco de guerra, para espanto dos mais sadios e sensatos, que aconselham – e muito bem – que se dê antes importância à ruína doméstica: mas como, se tudo aqui é tão cinzento, tão lamacento, tão previsível? “Grupo detrabalho da JMJ custa 35 mil euros por mês e mantém funções até final de 2024, equipa liderada por José Sá Fernandes deve custar mais de 1,3 milhões, em dois anos e meio e só em salários. A este custo, acrescem despesas com deslocação ou combustível.” A sério? Ninguém diria. Parece que ainda há muito que fazer. Valha-nos o estrondoso retorno que aquilo teve, não teve?, ninguém sabe ainda, mas há-de ser imenso, “absolutamente extraordinário”, não se espera menos de um palco e uma pala que estão para Lisboa como a Torre Eiffel está para Paris. Também há aquela auditoria que aponta para 60% de arrendamentos ilegais: "Autoridade tributária não tem um “plano abrangente” para controlar o arrendamento não declarado, mesmo conhecendo dados sobre os fornecimentos de água, energia e telecomunicações". Um país que se permite tal indolência, um país pobre que se permite tal indolência, é um país falhado; a vários níveis. Por isso, sim, volto as costas, deixo-me arreliar pelo duelo Trump vs Kamala Harris.
De repente, parece-me
possível que Kamala Harris venha a ser a 47ª presidente dos EUA. Na base da fé, confesso, preceito que, por estes dias, não deve andar totalmente arredado da mais
apurada análise política, posto que se passou da impossibilidade de substituir Joe
Biden – não havia tempo nem competência maior – para a impossibilidade de o
manter na corrida, perdendo apoio e financiamento: seja o que Deus quiser, e,
se Deus quis salvar um imbecil pela orelha, matando um bombeiro pelo caminho de
uma bala católica apostólica romana, deve ser para não privar o mundo de assistir
à derrota de um fanfarrão ignorante e machista por uma mulher estéril, louca,
perigosa e mal resolvida (isto continua tão indigente que nem merece indignação), Deus não está para causas maiores, ou o
Mundo itself seria já o Paraíso.
Barack Obama e a augusta Michelle (eu continuo a pensar que Michelle seria capaz de derrotar Trump com um elegantíssimo pestanejar de negro corvo, mas, e o depois, a tarefa é árdua) já declararam o seu apoio a Kamala Harris. Falta Taylor Swift: uma palavra sua, não sei se ainda dizem; outra radical sem filhos, exemplo péssimo para as novas gerações, de um mau role model para um mau role model, os EUA e o mundo entregues a perigosíssimas mulheres não reprodutoras. Tão patético, tão caótico, tão dramático. Explosivo. Há muito tempo que não havia tanto em causa. O próprio Trump pode não passar de um peão, se prestarmos mais atenção ao seu (espero) futuro ex-vice-presidente.
Quem é que, no seu perfeito
juízo, quer perder tempo com o rubor baço da política interna?