De
todas as características que fazem de um bom actor de teatro um bom actor de
teatro há duas que me seduzem mais do que todas as outras: a voz e a expressão
corporal. Dos principais actores de “Um Eléctrico Chamado Desejo”, que o grupo “Primeiros
Sintomas” levou ao palco pela mão de Bruno Bravo, é Joana Santos a que melhor
combina as duas, embora apenas Sandra Faleiro pudesse estar ali na pele da
deslumbrante Blanche DuBois; da mesma forma que Nuno Nunes encaixa
perfeitamente, corporalmente, num Stanley Kowalski rude, violento e primário,
mas cuja voz nunca foi capaz de me convencer, ao longo das três horas que dura
a peça baseada naquela outra de Tennessee Williams.
Gostei
bastante, no geral. Se não fosse pelo cartaz na parede – mais do que pelo GPS,
que já por mais de uma vez me enganou –, jamais diria que ali, no ventre de um prédio
desengraçado até na cor, na rua de Santa Engrácia, existia uma pequena sala de
teatro. Nunca tinha lá estado.
Foi
à saída, à procura de um lugar onde se pudéssemos comer fora de horas (lá acabámos no de sempre), que
ficámos a saber do atentado contra (a orelha de) Donald Trump.
A Democracia tem várias fraquezas, uma das quais – provavelmente, a que acabará por ditar a sua morte, neste mundo bizarro onde encalhámos – obriga a lamentar a violência daquele acto e a condescender no júbilo: Donald Trump sobreviveu a uma tentativa de assassinato – o que seria se não, o que será a partir daqui. Os EUA estão sentados sobre um barril de pólvora, e Joe Biden não pode competir com fénix renascida das cinzas.
(ainda não alinho em teorias da conspiração, também sou obrigada a reconhecer uma certa coragem naquele punho erguido)