sábado, 26 de outubro de 2024





Saturno Devorando o Filho (pormenor), Francisco de Goya

Não posso escrever aqui tudo o que se me oferece dizer sobre o líder parlamentar daquele bando de imprestáveis que constitui a claque de André Ventura lá na Assembleia da nossa República. Representam (ainda?) um milhão e não sei quê de nós, já sei, mas falta-me a caridade cristã que manda amar o próximo como a mim mesma, e sobra-me a arrogância de me considerar suficientemente dissemelhante daquela mole bafienta de gente de bem. Não me servem nem para odiar, porque o ódio é coisa quase nobre, primordial, não esta banalização pornográfica, a perseguição canalha que os faz salivar como cães de Pavlov cada vez que cheira a desgraça. Não. O meu ódio é da intensidade trágica das paixões dos grandes clássicos da literatura, extenuante, espelho sombrio do amor e igualmente denso; muito diferente deste ódio raso, ruminante.