"Desperta-me de noite
o teu desejo
na vaga dos teus dedos
com que vergas
o sono em que me deito
pois suspeitas
que com ele me visto
e me defendo
É raiva
então ciume
a tua boca
é dor e não
queixume
a tua espada
é rede a tua língua
em sua teia
é vício as palavras
com que falas
E tomas-me de foça
não o sendo
e deixo que o meu ventre
se trespasse
E queres-me de amor
e dás-me o tempo
a trégua
a entrega
e o disfarce
Lembras os meus ombros docemente
na dobra do lençol que desfazes
na pressa de teres o que só sentes
e possuíres de mim o que não sabes
Despertas-me de noite
com o teu corpo
tiras-me do sono
onde resvalo
e eu pouco a pouco
vou repelindo a noite
e tu dentro de mim
vais descobrindo vales."
As Nossas Madrugadas, Maria Teresa Horta
“Minha Senhora de Mim” foi publicado pela primeira vez em 1971. Era precisa muita coragem para ofender daquela maneira a moral tradicional do país, que mantinha a mulher em regime de obediência ao seu papel de esposa e mãe. Assexuada. Maria Teresa Horta talvez prefira que se diga: o que é preciso é Liberdade. Por ela, foi perseguida e espancada.
Este ano, a BBC incluiu-a na sua lista das 100 mulheres
mais influentes e inspiradoras de todo o mundo.
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