Continuo
a amar a decadência de Roma. As ruas sujas, o trânsito caótico que pulsa com
impaciência orgânica, o crocitar das buzinas dissolvendo-se no canto dos pássaros, no rumorejar distante das fontes antigas. O tempo vibra numa frequência
inexacta, dobra-se, insinua-se nas frestas dos séculos; toma consciência de si.
Roma é um estado de sobreposição, fracturado, na iminência do colapso. Ainda lavram
as chamas sob a loucura de Nero, e a luz ainda dança no mármore de Bernini
esculpindo a religiosidade erótica de Santa Teresa. Persisto no espaço que hesita
entre os dois.