quinta-feira, 20 de fevereiro de 2025

 

Continuo a amar a decadência de Roma. As ruas sujas, o trânsito caótico que pulsa com impaciência orgânica, o crocitar das buzinas dissolvendo-se no canto dos pássaros, no rumorejar distante das fontes antigas. O tempo vibra numa frequência inexacta, dobra-se, insinua-se nas frestas dos séculos; toma consciência de si. Roma é um estado de sobreposição, fracturado, na iminência do colapso. Ainda lavram as chamas sob a loucura de Nero, e a luz ainda dança no mármore de Bernini esculpindo a religiosidade erótica de Santa Teresa. Persisto no espaço que hesita entre os dois.