O filme é longo, e não contei o tempo que decorre desde o momento em que Rubens Paiva é levado da sua casa no Leblon e o dia em que Eunice regressa, exausta e imunda, à mesma casa depois de passar vários dias em cativeiro, detida para interrogatório. Mas, durante todo esse tempo, na sala de cinema, fez-se silêncio absoluto. Havia uma tensão palpável. Nem pipocas, nem telemóveis, nem sussurros no escuro, ao ouvido – nada. Há muito tempo que não vivia um momento de cinema desses. Também por isso valeu a pena.
Talvez a família Paiva não fosse tão feliz como Walter Salles a retratou; e, para mim, o filme poderia ter terminado quando Eunice e os cinco filhos deixam o Rio de Janeiro – com perdão para a magnífica Fernanda Montenegro, que, assim sendo, não teria aparecido. Talvez eu também levasse demasiadas expectativas. Mas não deixa de ser um bom filme; atordoante, às vezes. Todo o elenco é magnífico, na verdade, não só Fernanda Torres, embora ela evidentemente. É sinistro, haver tanta gente que reclama o direito à liberdade, enquanto venera a ordem desses regimes ditatoriais, imposta pelo abuso, pela perseguição e morte daqueles que ousam desobedecer.