The
Literary Man Obidos Hotel: tem críticas excelentes,
está localizado na bela vila de Óbidos e é um desses hotéis que se dizem de livros – o que poderia
correr mal? Serei eu, que não o soube apreciar.
Para
ser justa: a cama, óptima, de lençóis branco imaculado, sem um único vinco, que
é exactamente como eu gosto de os sentir na pele, quando me deito; os
excelentes ovos do pequeno-almoço – parece fácil, estrelar ovos perfeitos,
mas não é; a simpatia genuína dos funcionários; acordar com o tagarelar dos pássaros lá
fora, mesmo antes da chuva. Deveria ter bastado, era apenas uma noite. Mas não gostei
nada do cheiro a humidade pelos corredores (e, embora menos intenso, no quarto),
nem do estado das alcatifas – pormenor de decoração que, não por acaso,
detesto. A decoração, aliás, é de um rústico demasiado artificial, para o meu gosto. Nem os livros me salvaram da desilusão, não porque levasse intenção de
ler algum – levo sempre os meus –, mas porque a enorme amostra não corresponde
a igual oferta: títulos repetidíssimos, autores mornos, e, last but not
least, para não destoar, não vislumbrei um único livro em português (de
autores portugueses, nem falo, apenas os retratos de rosto a decorar algumas mesas da sala
de jantar), com excepção de meia dúzia de manuais já não me lembro de quê, pousados
no chão, por baixo de uma estante. Em inglês tudo o resto que me foi possível
ver, e vi bastante. Não é um crime de lesa-pátria, há milhares de livros, escaparam-me esses com toda a certeza, mas, pessoalmente, não trago saudades. Já que estou nisto, também não fiquei encantada com a livraria
instalada na antiga igreja de Santiago do Castelo. Chata. A igreja também.
Óbidos,
pelo contrário, apesar da ruína – ou talvez por isso – mantém grande parte do
seu encanto. Nunca me canso das suas ruas, dos passeios pela extensa muralha, da
vista, do pôr-do-sol, do mural de azulejos da Porta da Vila, da bela Igreja de Santa Maria, cujo exterior quase modesto dificilmente antecipa o(s) tesouro(s) que lá se esconde(m).
Entretanto, morreu Pinto da Costa e o acontecimento tomou de assalto a actualidade. Ao contrário do que parece ser o entendimento de alguns, nestes momentos, a morte não purifica e, seguramente, não santifica. Jorge Nuno Pinto da Costa estava longe de ser santo (nem o desejaria), e a atenção que dispensamos ao futebol é coisa que nunca cessa de me espantar. Mas – ah!, tenho um mas –, podemos ter opiniões assanhadas e conflituosas sobre a mesmíssima pessoa, e o que está a acontecer na minha cidade do Porto jamais poderia deixar-me indiferente. A parte decente de mim tem uma opinião em contra-mão com a outra, a que lamenta a morte do homem que conheci como presidente do FCP desde que tenho memória do tempo em que o meu pai me levava, a mim e à minha irmã, minúsculas, aos jogos nas Antas, para ver o Porto e, inevitavelmente, ouvir a mulher do sr.A. insultar os árbitros em futebolês correcto. O futebol também tem razões que a razão, não só desconhece, como nunca aprovaria, se soubesse.