A
língua, como o mar, tem as suas marés. Palavras dóceis, fáceis, vêm e vão, sem
escavar fundo nas camadas do ser; não deixam vestígios. Gosto das outras, pesadas,
persistentes, dedilhando versos no avesso da pele, em vermelho vivo, explodindo
silenciosas como relâmpagos antes de rugir o trovão; as que não cabem na
devoção apressada dos fingidores. Rasguei as tuas cartas de amor.