quarta-feira, 12 de março de 2025

Circunstancialmente...

António Costa ainda não deve ter acabado de agradecer a nossa senhora o famoso parágrafo que o levou a Bruxelas. Portugal está condenado à ingovernabilidade. Há um crepitar de acontecimentos que embrutece o pensamento. Vi parte do espectáculo de ontem, e indecoroso aplica-se-lhe bem. A questão é: e isso interessa a quem?

A análise política tomou artes de adivinhação. É impossível racionalizar sobre o irracionalizável. Noutros tempos, com outro Presidente da República, talvez Luís Montenegro fosse convidado a sair (por indecente e má figura?) e o PDS, a apresentar outro nome para primeiro-ministro. Ter-se-ia evitado a degradação a que chegámos, que, para isso, já bastam aquelas cinquenta avantesmas; mas temos uma inexplicável, e incontrolável, atracção pelo martírio. 

Luís Montenegro é o principal responsável pelo descalabro. Venha ou não venha a ver legitimado pelo voto o expediente manhoso que defende com dramas de Shakespeare. Com excepção dos tontinhos, nenhum dos seus mais histéricos defensores consideraria aceitável a posição em que o primeiro-ministro se colocou (e ao governo com ele) se o primeiro-ministro fosse da oposição. Não tem nada que ver com o direito à vida própria – profissional, social, familiar – para lá da política, essa é ladainha do fingimento, por sinal, bastante desonesta; nem merece discussão tão evidente é o desconforto entre alguns membros do próprio partido. 

Tragicamente, não se vislumbra melhor caminho. PSD e PS, com maior ou menor descaramento, têm feito o possível por garantir a mediocridade da acção política. Mais do que mediocridade: mesmo sabendo que a política também vive da encenação, como é que aquela gente será capaz de se sentar à mesma mesa para discutir o que quer que seja, mais ainda, o futuro de um país?