quinta-feira, 5 de junho de 2025

 

Também havia o professor de Mecânica Quântica. 

Enchia a sala e olhava através de nós. Creio que nunca esteve totalmente presente — habitava várias dimensões em simultâneo. Escrevia no quadro negro com uma urgência religiosa, enchendo espaços vazios numa geometria febril que só ele era capaz de decifrar, e apagava o excesso com a manga esquerda da camisa branca: dois segundos e estávamos perdidos.

Falava da cisão do átomo como um corte no tempo. Do equilíbrio impossível da matéria aprisionada nas forças que a mantinham inteira, para se desfazer na lassidão eterna do tempo. Uma atracção incontida em si mesma. Entrelaçamento. Decaimento. Alfa, a constante de estrutura fina.

Ouvem o murmúrio do mundo subatómico?

A fragmentação silenciosa em ondas invisíveis, o colapso mudo da matéria. Partículas entrelaçadas na ausência, ligadas através de distâncias impossíveis, uma e outra carregando memórias; a transmutação que desafia o tempo e o espaço. A observação que cria a realidade; a realidade que se dissolve no acto de ser observada.