Também havia o professor de Mecânica Quântica.
Enchia a sala e olhava através de nós.
Creio que nunca esteve totalmente presente — habitava várias dimensões em
simultâneo. Escrevia no quadro negro com uma urgência religiosa, enchendo
espaços vazios numa geometria febril que só ele era capaz de decifrar, e apagava o excesso
com a manga esquerda da camisa branca: dois segundos e estávamos perdidos.
Falava da cisão do átomo como um corte no tempo. Do equilíbrio impossível da matéria aprisionada nas forças que a mantinham inteira, para se desfazer na lassidão eterna do tempo. Uma atracção incontida em si mesma. Entrelaçamento. Decaimento. Alfa, a constante de estrutura fina.
Ouvem o murmúrio do mundo subatómico?
A
fragmentação silenciosa em ondas invisíveis, o colapso mudo da
matéria. Partículas entrelaçadas na ausência, ligadas através de distâncias
impossíveis, uma e outra carregando memórias; a transmutação que desafia o
tempo e o espaço. A observação que cria a realidade; a realidade que se dissolve
no acto de ser observada.