quarta-feira, 2 de julho de 2025

 

Sobre a nacionalidade e os nossos valores: parece-me tudo muito bem. Se vamos integrar pelo exemplo, podemos começar pelo do excelso secretário regional do Turismo, Ambiente e Cultura da Madeira, ou pelo general-comentador Agostinho Costa – se se pode chamar àquilo comentar: pelo que vi, é uma espécie de monólogo, sofrível e febril (há outros canais de televisão onde a mesma pessoa possa estar quase ininterruptamente durante treze minutos a pregar aos peixes?); e, embora eu evite ao máximo usar do lamento em torno da misoginia – não porque não o considere adequado tantas vezes, mas porque prefiro a estocada com recurso a outras armas –, não sei se o major-general destrataria de forma tão estrídula a Diana Soller se a Diana Soller não fosse uma mulher.  Mas é. E muito contida, ao contrário do seu detrator; por mim, tinha mandado o senhor à merda, para usar uma utilíssima palavra do dicionário, como ensinou o outro senhor, o da cultura.

De resto, estou para coisas simples. O calor deixa-me enjoada e impaciente, incapaz de seguir o fio dos acontecimentos; para além do julgamento do ano. O da Marques, não o do Marquês  este, se nenhuma das partes falecer entretanto, deve resolver-se pelo pagamento de uma bela indemnização ao arguido, que poderá, finalmente, retribuir ao generoso amigo a preciosa ajuda que lhe vem garantindo há anos, sem esquecer os cinco milhões de euros da herança da mãe. É o da Joana Marques que me intriga quase perversamente. Ando perplexa com a leitura que as advogadas dos queixosos têm feito sobre o assunto. Do bullying aos "limites do humor" ou da "liberdade de expressão", parece-me tudo estupidamente absurdo; quase amador. A coisa mais inteligente e sóbria que li sobre isto escreveu-a Francisco Mendes da Silva no PÚBLICO: “A acusação de que Joana Marques é uma bully, lançada amiúde, não faz qualquer sentido. O Extremamente Desagradável, a sua rubrica bandeira na Rádio Renascença, zomba dos fanfarrões e dos trapaceiros, da babugem presunçosa das “celebridades” e das vigarices dos “criadores de conteúdos”. É um programa sobre a volúpia de quem se apresenta ao mundo na mó de cima, ou numa posição de superioridade moral. O principal tema do humor de Joana Marques é o nosso narcisismo. É a falta de noção, a imodéstia desregrada, a propensão para o ridículo de que ninguém está imune. (…) E o seu talento mais visível, acrescento eu, é o de conseguir chamar a atenção do público, com o menor grau possível de intervenção humana, para o ângulo cómico de todas as situações.(…) Daí que um dos aspectos mais deliciosamente cómicos deste caso, dada a sua coerência com o processo criativo de Joana Marques, é a ironia de os Anjos estarem a ser gozados por Portugal inteiro, num cenário que a envolve, mas sem que ela tenha de alguma forma manipulado a realidade.” 

Além de que o vídeo da discórdia nem sequer pertence ao alinhamento do “Extremamente Desagradável”, a versão integral é igual ou pior, e é possível que meio Portugal ou mais, onde me incluo, nem soubesse da sua existência antes disto. Os Anjos querem que o tribunal os absolva do ridículo que os próprios cavaram – não a Joana Marques, por muito que não se goste do humor que a Joana Marques faz. 

É inacreditável o tempo que perdemos com isto. Mea culpa também. E não sou capaz de dizer que os Rosado não ganham. Os tempos andam assim para o estrábico.