Gosto
do Natal. O meu Natal é de sorrisos e mimos e colo e abraços demorados, e,
nisso, não é diferente de muitos outros dias do meu ano, e por isso sou grata,
embora não o verbalize com o despudor que merecia. Talvez o meu Natal sirva
esses pequenos excessos: agradecer o tempo que não perco em discussões
familiares sobre, nem em dias inteiros, insanos, de centro comercial, em filas
intermináveis para a compra de presentes estéreis.
Depois,
há um bacalhau cozido, que não é exactamente com todos, mas não dispensa uma
generosa cama de azeite, muito alho picado directamente no prato e um pouco de
pimenta (que eu prefiro preta), manjar que a família herdou da mania do pai do
meu pai, Natal após Natal.
Há
(não é inevitável?) muita saudade, no meu Natal, mas há também, ainda, uma
alegria de miúda que guardo no fundo de mim como o mais precioso dos bens, e é
sempre esse o meu maior desejo para aqueles a quem quero bem, um breve pulsar
de alegria para aguentar a face miserável do mundo.