terça-feira, 7 de agosto de 2018

Liberdade e bom senso: abusamos da primeira e falta-nos bastante do segundo

Há cerca de dois anos, em Espanha!, Manuel Ollero Cordero, Eizpea Etxezarraga e Bryan Eduardo Salinas Luna (sim, os nomes são importantes porque tenho muitas dúvidas que estas almas tivessem tido coragem de dizer cara-a-cara o que disseram twitte-a-twitte) comprouveram-se com a iminente morte de um menino de 8 anos. Motivo? O menino, de seu nome Adrián Hinojosa, queria, pasme-se, ser toureiro e, por isso, foi homenageado na praça de touros de Valença o que indignou muita gente. Morreu meses depois. Manuel Ollero Cordero, Eizpea Etxezarraga e Bryan Eduardo Salinas Luna (nunca é demais), entre outros tuiteiros iluminados, civilizados e ilustres, acharam que morrer era bem merecido para quem queria crescer apenas com o desejo de matar um touro na praça. Agora, um juiz espanhol acusou as três sumidades da Twitteratura de crime de ódio. Mas, na opinião de alguns, twittar algo do tipo “Que morra, que morra já. Uma criança doente que quer curar-se para matar herbívoros inocentes e saudáveis que também querem viver. Por favor! Adrián, vais morrer” enquadra-se no direito à liberdade de expressão e, por isso, pedem que sejam retiradas as acusações. 

Entretanto, o ex-ministro britânico dos Negócios Estrangeiros, Boris Johnson está a ser fervorosamente acusado de islamofobia por dizer considerar absolutamente ridículo alguém andar por aí vestido como caixas de correio, ou como assaltantes de bancos, referindo-se às mulheres que usam burka. Curiosamente, o artigo escrito por Boris Boris Johnson e que inflamou os defensores do tal politicamente correcto tinha como título Denmark has got it wrong. Yes, the burka is oppressive and ridiculous – but that's still no reason to ban it, e vai muito além da ridicularização da dita vestimenta, mas isso não interessa aos espíritos inflamados. Aparentemente, Boris Johnson não tem direito à mesma liberdade de expressão dos que desejam a morte a uma criança que gostaria de vir a ser toureiro e o senhor está a ser pressionado a apresentar as suas mais sinceras desculpas à comunidade islâmica.

Convinha fazermos um esforço para acalmar os delírios. A última vez que estive em Londres com o meu filho, tinha ele pouco mais de 4 anos, ficamos retidos no aeroporto de Heathrow por causa de um balão que o miúdo levava. Contado ninguém acredita. O balão foi levado para averiguações e foi-nos devolvido após uns bons 10 minutos e a confirmação da sua inocência. Mas uma mulher tem o direito de não revelar mais do que uma nesguinha dos olhos, impedindo as forças de segurança, por exemplo, de comprovar a sua identidade. Algo está profundamente errado em tudo isto…