Na Hungria de Vickor Orbán, ser sem-abrigo é ilegal (não
é só, eu sei). Assim, e no “interesse da sociedade”, a polícia húngara está,
desde esta segunda-feira, autorizada a retirar dos espaços públicos quem não
tem onde dormir. Teoricamente, estes seres ilegais devem ser encaminhados para
abrigos. Se se recusarem a fazê-lo, três vezes em 90 dias, a polícia pode
detê-los e destruir os seus pertences. Os cidadãos, os legais, obviamente,
devem ter o direito de usufruir dos espaços públicos sem constrangimentos.
Na América de Trump, (pelo menos) uma menina, hondurenha,
de dois anos testemunhou sozinha, no “Tribunal Federal de Imigração nº 14” dos
EUA. Na fronteira, foi separada da avó que tentava entrar ilegalmente nesse
país tão grande outra vez. Na esclarecidíssima e iluminada opinião de Trump e
de muitos dos seus apoiantes, se as famílias tiverem medo de serem separadas
das suas crianças, não se atreverão, sequer, a tentar entrar. De resto, na
América, por exemplo, está tudo a correr muito bem. A economia está a crescer a
um bom ritmo e a administração Trump fez mais pelo país, nos últimos dois anos,
do que praticamente todas as outras administrações anteriores, pese embora o
facto de Melania ainda ser a maior vítima de bullying do mundo, e não sei qual
das duas “constatações” tem mais piada, porque, convenhamos, o humor também faz
falta, embora, parece que em alguns países é tão ilegal como algumas pessoas,
mas adiante.
Os brasileiros vão eleger Bolsonaro porque já não
suportam o PT e a sua corrupção. Afinal, sempre é melhor um F-A-S-C-I-S-T-A
para arrumar a casa e eliminar os corruptos, do que outro democrata
possivelmente viciado. Nem sequer faz falta vir o diabo escolher. Até porque os
moderados e democratabilíssimos checs-and-balances que
o Brasil não tem irão acabar por refrear os piores instintos do capitão Jair,
tal como os que, sim, existem (ou existiam) nos EUA (não!) serão suficientes
para impedir nova eleição de Trump, em 2020; não esquecer que, com jeitinho, o
homem ainda acaba prémio Nobel da Paz.
Enfim, os problemas são o que são e, pelos vistos, a
democracia deixou de servir como solução. Churchill estaria certo se não
tivesse (ab)usado da chalaça: na actualidade, parece não haver pior forma de
governo.
Eu, como cidadã do mais impoluto e legal que há, penso
até se não seria melhor voltarmos todos ao olho-por-olho-dente-por-dente:
cortar a mão ao ladrão, apedrejar os adúlteros, castrar os violadores, enfim,
garantir o descanso imaculado e sem sobressaltos das sociedades limpas e
pagadoras de impostos…isso é que era!