quarta-feira, 30 de janeiro de 2019

A Hipocrisia (e o asco) das Comissões de Inquérito

Parece que vai haver uma nova comissão parlamentar de inquérito. Aos actos de gestão da CGD. O CDS propõe, o PDS, também, e, parece, também, que o PS aprova. É provável que os outros partidos também venham a aprovar, ou a propor, uma comissão parlamentar, em nome próprio ou a reboque. A pergunta que se impõe é: para quê? Imagino que seja para o que costumam servir as nossas tão cerimoniosas comissões parlamentares de inquérito, salvo algumas (poucas), excepções: para fingir, essencialmente. Fingir indignação, fingir desconhecimento, fingir espanto, fingir responsabilidade, fingir vontade de fazer diferente e melhor. Os inquiridos vão lá fingir que são amnésicos, incapazes, incompetentes ou ignorantes - nunca, claro, no que que toca aos seus prejuízos pessoais, esses sempre salvaguardados - e os inquiridores, a maioria, vão lá fingir que cumprem a sua função, simular o ultraje. No fim, fingimos nós todos, que não temos nada a ver com aquilo e não nos metemos em política. É um permanente faz-de-conta, mas sem final feliz.

Já é escandalosamente evidente que a CGD serviu de porquinho mealheiro para um bando (não é força de expressão e, sim, no sentido pior do termo) de gente que mais não sabe do que viver de estrelato pífio, compadrios, favores e corrupção. Esse tipo de corrupção que tanto indignou Augusto Santos Silva, por ameaçar aparecer em destaque no relatório da OCDE que há-de sair em Fevereiro ou Março. Até lá, vamos continuar a fingir que, em Portugal, só há "políticas erradas" e "falta de meios". É uma estrondosa mentira. O que há é muitas mãos a segurar outras tantas. Ninguém quer tirar a sua.