A
utilização de redes sociais deveria vir acompanhada de um aviso do género: o
uso não ponderado pode provocar acessos de cretinice aguda, eventualmente,
crónica. Por exemplo. E com bolinha vermelha, a piscar, frenética, num canto
qualquer do écran. Podia ser que, assim, se evitasse que pessoas que ocupam
cargos de responsabilidade se portassem como imbecis, para usar uma linguagem
simpática.
Os
últimos dias foram férteis em imbecilidades. Mais do que o normal. Do tipo das
que não ajudam nada à resolução dos problemas mais sérios e mais graves que as
despoletam. Pelo contrário. Na sequência de um episódio dramático de confronto
entre polícias e moradores – cujos contornos devem continuar a discutir-se – de
um bairro social de condições tão miseráveis que nos envergonha a todos (ou
deveria), alguns interventores da vida política não souberam estar à altura dos
cargos que exercem (tem acontecido bastante). Preferiram o insulto, o abuso
despudorado e hipócrita e a chalaça rasteira e brejeira.
O
primeiro foi Mamadou Ba. Num acesso de indignação, eventualmente, sentida e
justa, o assessor do Bloco de Esquerda usou do insulto para se referir a
agentes da polícia, a quem chamou bosta da bófia. Admite-se que não se
referia a todos, à classe, o que seja. O direito à crítica, à indignação, à
revolta, não é livre-trânsito para a prática da injúria que se não admite ao
outro. Não se trata de dar a outra face, como um santo de pés de barro. Trata-se
de não perder o poder, irrepreensível, de criticar e exigir.
A
seguir, agentes da PSP, daqueles que envergonham a farda, encheram páginas no
Facebook com mensagens de ódio e ameaças, apostados em "meter na
linha" esses "vermes" e "javardas", "porcos",
que deviam era levar um "tiro no centro da testa".
Depois,
António Costa. É verdade, aqui não foi numa rede social. Foi na Assembleia da
República, o que ainda é mais grave. O primeiro-ministro perdeu (mais uma vez)
as estribeiras com Assunção Cristas, que tem o dom de retirar, àquele homem,
qualquer réstia de ponderação e bom-senso. Resolveu, por isso, o
primeiro-ministro, usar o truque da cor da pele, pasme-se!, para se insurgir
contra a pergunta da sua interlocutora sobre se condenava ou não os incidentes
no Bairro da Jamaica. Uma espécie de momento Serena Williams (como o
classificou Ricardo Araújo Pereira no seu novo programa de televisão, embora eu
própria já o tivesse pensado, até porque bastante fácil), completamente
despropositado e bastante absurdo. Indecoroso.
Finalmente,
last but not least, de todo, tal é o despautério, João Moura, deputado
do PSD, resolveu usar da graçola para criticar o pedido de protecção policial
por parte de Mamadou Ba. Por considerar, provavelmente, incoerente que alguém
que destratou a polícia venha, agora, solicitar-lhe abrigo, João Moura teve um
momento de exaltação poética e resolveu dedicar a Mamadou Ba um post à
altura da epifania: “Ó Mamadou e se fosses ba(rdamerda)!”.
Que elegância, não haja dúvidas. Para não falar da inteligência que se impõe
sempre, e expressivamente, nestas circunstâncias. Posteriormente, João Moura
apagou a piada, como, também, é costume fazerem os castos.
Uma
última nota. Mamadou Ba foi imprudente, imbecil e até injusto, porque,
acredito, a maioria dos nossos agentes de segurança são gente competente e
justa. Nada justifica que dois energúmenos o tenham seguido, intimidado e
filmado o acto idiota, para gáudio dos da sua laia.