Ouvir
falar Nicolás Maduro causa-me o mesmo asco que escutar Donald Trump ou Jair
Bolsonaro. Talvez não sejam os três iguais, mas parecem, embora, neste caso,
pareçam não estar exactamente do mesmo lado. Mas, isso, é outra história. E,
claro que há mais do mesmo género, mas, ouvir e entender alguém na sua própria
língua tem outro impacto.
O
impasse na Venezuela começa a ser surreal e algo vergonhoso. Mais de quarenta,
creio, países reconhecem Juan Guaidó como presidente da Venezuela, e depois? Os
militares continuam fiéis a Nicolás Maduro, que não tem qualquer pudor em
mandar as tropas atirarem sobre os manifestantes, sobre o povo venezuelano.
Parece
ser já evidente que houve uma espécie de erro estratégico, ou, pelo menos, de
intenção, por melhor que fosse. Se alguém pensou – que é como quem diz, essa
tal comunidade que dá pelo nome de internacional – que bastava manifestar apoio
público a Guaidó para que uma massa significativa de militares atirasse ao chão
as armas e se curvasse à bondade e vontade do presidente interino, já se
percebeu que o plano falhou estrondosamente. A próxima pergunta é: e agora?
Nicolás
Maduro ainda domina. E goza. Chama palhaço a Guaidó, o presidente da oposição
da Wikipédia, bromea, infame, e instiga o seu adversário a marcar as
eleições que ele próprio rejeita, obviamente. Entre insultos e discursos, ainda
tem tempo e ânimo para dançar salsa com a primeira-dama. Dava vontade de
rir, não fosse o caso de a situação ser, como é, demasiado – insuportavelmente
– trágica.
Entre
indignações selectivas e relaxadas sobre a inadmissível ingerência de
países estranhos sobre a soberania de cada Estado, vamos assistindo à miséria
das condições de vida(?) do povo venezuelano, que implora por ajuda que chega,
mas não chega. Que tipo de chefe de Estado deixa que o seu povo morra de fome e
de abandono, por puro e mesquinho despeito? É mais que evidente que Maduro está
menos preocupado com o possível golpe de Estado de que acusa os países
apostados em fazer entrar as caravanas de ajuda humanitária na Venezuela, do
que em perder o poder que usurpou numas eleições que ficaram marcadas por denúncias
de fraude, boicote à oposição e uma elevada abstenção. Não teme nada, nem
lhe treme o pulso, fanfarrão, a não ser, claro, que venha a ser obrigado a
sujeitar-se a sério escrutínio por parte dos seus pares.
Enquanto
os militares se mantiverem fiéis a Nicolás Maduro, não parece haver solução à
vista, a não ser que se intente a intervenção militar externa que ninguém
deseja. Resta saber até quando resistirá Juan Guaidó e o seu povo faminto e
esgotado.