Assistir à tomada de posse de Donal Trump, nomeadamente,
ao discurso (se é que se lhe pode chamar assim) do homem, teve em mim, o mesmo
efeito que assistir à queda das torres gémeas, em Setembro de 2001: olhava,
incrédula, para o ecrã à espera que alguém me acordasse do pesadelo ou que, à
custa de tanto ver e rever as imagens, acabasse por digerir a imensidão da
tragédia. Agora, como antes, continuo a fazer um esforço por racionalizar os
factos e, sobretudo, os motivos que levaram uma nação, como os Estados Unidos,
a eleger como seu(?) presidente um homem como Donald Trump.
À era da pós-verdade, seja lá o que isso for, Donal Trump
e a sua corja vieram juntar os “factos alternativos”, esse fantástico e
inacreditável eufemismo para a “mentira repetida mil vezes” que se torna
“verdade”, lembram-se? Pois.
Para Donald Trump e seus aliados, a verdade pouco
importa, a realidade não existe. Ambas podem ser adaptadas a cada momento,
ponto final! “If the facts don't fit the theory, change the facts.”Ou,
simplesmente, press delete, o que eu disse ontem, foi ontem, hoje é um novo
dia! Não vivemos nada na “Alemanha Nazi” e os tipos da CIA são fantastic guys.
Isso e o milhão e meio de pessoas que encheram a Avenida Pensilvânia, na maior
audiência da história da tomada de posse de um presidente americano, ah, isso é
que foi! E, não interessa nada, mas também não choveu, só choviscou e foi já
depois de o presidente se ter retirado. Os que não concordarem com isto serão
despedidos, so help me God!
Donald Trump encarna, na sua loucura megalomaníaca, o
salvador do Mundo. Convictamente. Ele vai acabar com todo o mal à face da
Terra, seja o ISIS-barra-Daesh-barra-Estado Islâmico, seja a droga, seja a
“carnificina” que alastra pela América, seja, simplesmente, todos os não estão
com ele, porque, se não estão com ele, estão contra ele. E ninguém está contra
Donald Trump! Ele é O homem, Ele vai fazer a America great again! E Deus olha
pelos americanos, fala com eles através de Trump, que fará da América uma
espécie de reino de Deus ao vivo e a cores. Só não se dança porque depois do
“My Way” já se percebeu que O homem não tem jeito para aquilo. Ponto
final!