A SIC emitiu uma reportagem centrada na violência extrema
a que são sujeitas as crianças raptadas pelo Daesh. A reportagem, da autoria do
jornalista Henrique Cymerman, dá voz às atrocidades a que estas crianças são
submetidas, desde tenra idade, e é preciso “ter estômago” para ver este
trabalho até ao fim.
Ouvir crianças descrever como foram ensinadas a matar, a
decapitar, primeiro com “bonecos e, depois, com gatos”, é de uma brutalidade
atroz. Ver o corpo de uma criança de dez anos deformado pelas cicatrizes que
ficaram depois de ter sido atingida a tiro por militantes do Daesh provoca-nos
uma náusea incontrolável. Como é possível? Que gente é esta que não hesita em
arrastar crianças (meu Deus, crianças!) para uma guerra em nome de uma
religião? Que religião é esta que exige que os seus devotos ensinem crianças,
algumas, de quatro(!) anos, a pegar numa arma para matar “infiéis”?
Na reportagem, um menino de três anos não consegue
controlar as lágrimas quando ouve a referência ao Daesh. E eu não consigo
continuar a ver. Levanto-me e vou beber um copo de água. Um copo de água...a
banalidade do acto é, ela própria, uma crueldade que me devolve, violentamente,
a lembrança da perversa privação a que estes meninos e meninas foram, são
ainda, obrigados.
Quando volto, um outro menino (este de dez anos) relata,
com uma assustadora lucidez e crueza, como viu crianças a decapitar outras
crianças, como lhe diziam para “cortar cabeças” e deixá-las junto aos corpos,
visíveis, para os cães comerem…
Os elementos da equipa de resgate pagam dez mil, vinte
mil dólares para salvar mulheres e crianças das mãos desta gente insana.
As crianças resgatadas chegam aos campos de refugiados
profundamente traumatizadas, de uma forma que, nós, ocidentais, no conforto das
nossas casas, dificilmente poderemos imaginar.
Às vezes, ocorrem pequenos milagres e alguns elementos de
uma mesma família reencontram-se, quando já se julgavam sozinhos. E, mesmo
assim, é assustador ver como uma das crianças, uma menina, chega ao campo e
parece não estar lá… está apática, perdida, talvez ainda não acredite que foi
salva. Imagine-se o que terá passado, no seu cativeiro.
Mas, para mim, o maior milagre é ver como as crianças
ainda mantêm a capacidade de brincar e de sorrir…