quarta-feira, 19 de julho de 2017

"Crianças no Daesh"

A SIC emitiu uma reportagem centrada na violência extrema a que são sujeitas as crianças raptadas pelo Daesh. A reportagem, da autoria do jornalista Henrique Cymerman, dá voz às atrocidades a que estas crianças são submetidas, desde tenra idade, e é preciso “ter estômago” para ver este trabalho até ao fim.

Ouvir crianças descrever como foram ensinadas a matar, a decapitar, primeiro com “bonecos e, depois, com gatos”, é de uma brutalidade atroz. Ver o corpo de uma criança de dez anos deformado pelas cicatrizes que ficaram depois de ter sido atingida a tiro por militantes do Daesh provoca-nos uma náusea incontrolável. Como é possível? Que gente é esta que não hesita em arrastar crianças (meu Deus, crianças!) para uma guerra em nome de uma religião? Que religião é esta que exige que os seus devotos ensinem crianças, algumas, de quatro(!) anos, a pegar numa arma para matar “infiéis”?

Na reportagem, um menino de três anos não consegue controlar as lágrimas quando ouve a referência ao Daesh. E eu não consigo continuar a ver. Levanto-me e vou beber um copo de água. Um copo de água...a banalidade do acto é, ela própria, uma crueldade que me devolve, violentamente, a lembrança da perversa privação a que estes meninos e meninas foram, são ainda, obrigados.

Quando volto, um outro menino (este de dez anos) relata, com uma assustadora lucidez e crueza, como viu crianças a decapitar outras crianças, como lhe diziam para “cortar cabeças” e deixá-las junto aos corpos, visíveis, para os cães comerem…

Os elementos da equipa de resgate pagam dez mil, vinte mil dólares para salvar mulheres e crianças das mãos desta gente insana.

As crianças resgatadas chegam aos campos de refugiados profundamente traumatizadas, de uma forma que, nós, ocidentais, no conforto das nossas casas, dificilmente poderemos imaginar.

Às vezes, ocorrem pequenos milagres e alguns elementos de uma mesma família reencontram-se, quando já se julgavam sozinhos. E, mesmo assim, é assustador ver como uma das crianças, uma menina, chega ao campo e parece não estar lá… está apática, perdida, talvez ainda não acredite que foi salva. Imagine-se o que terá passado, no seu cativeiro.

Mas, para mim, o maior milagre é ver como as crianças ainda mantêm a capacidade de brincar e de sorrir…