Chegam, com estrondo, à caixa auto-serviço. O miúdo tenta ajudar, mas a máquina é implacável e vai
resmungando bips de protesto contra a altercação da ordem pré-estabelecida pela engenharia que a comanda. A mãe exaspera-se. Uma daquelas mães cujo
desespero em crescendo transparece com caprichada fúria e a dose de drama
necessária para atrair todas as atenções. A assistente vai olhando de
soslaio com o enfado típico de quem se fartou de presenciar dramas de mães
exasperadas e outros de gravidade idêntica.
A máquina grita - com a mãe, com o
miúdo - a assistente, sem sair da cadeira, atira com um ainda não pode
tirar as coisas daí, o miúdo encolhe-se, a mãe tem a máscara pelo pescoço e
os nervos por todo o lado e vai rosnando contra a incompetência do filho, de
todos os filhos, vocês agora não têm jeito p'ra nada, desfiando, em seguida, um rol de rosários de sentenças e agravos, até que a assistente lá
se decide, finalmente, a prestar algum auxílio no resgate das verduras que mirram do lado errado do mono
de metal e acrílico programado ao detalhe para lhe facilitar a vida.
Voltamos a cruzar-nos no parque de
estacionamento. A mãe, agora, de máscara no sítio, já toda ela amor e doçura,
de brandos modos, segurando os sacos de compras sem a menor denúncia de alvoroço de há pouco.
Só o miúdo continua encolhido. Os olhos turvos esbarrando nos meus.