A primeira vez que alguém me propôs
dinheiro a troco da realização de um exame foi, talvez, há uns quatro anos. Demorei
uns minutos a perceber o alcance da proposta de fraude. Começou com uma
pergunta tão inocente quanto legítima, na forma de sms para o meu contacto
telefónico profissional: era eu fulana-de-tal, que preparava alunos
assim-assim para exames assim-assado?, e mais uns quantos pormenores a que
fui respondendo com a ingenuidade que, por vezes, me assalta, me irrita e me desespera, tendo em
conta os anos que levo disto, que já levava na altura, e que são, realmente, muitos.
Quando comecei a assimilar a dimensão da
coisa, respondi que haveria, certamente, algum equívoco, já que o meu trabalho
não era esse. A criatura ofendeu-se com o meu atrevimento, quem é que eu achava
que era!, e atirou-me com um valor obsceno, perguntando-me se não chegava.
Respondi que não era questão de valor, antes uma questão de valores, e dei a conversa
por encerrada.
A última vez que recebi uma proposta
idêntica, não chegámos à parte do valor. Foi há cerca de um mês e a pergunta
foi directa, tal como a resposta, e não houve mais assunto. Pelos vistos, a
fraude está muito mais agilizada e traz muito menos constrangimentos. Já não me
sinto tão chocada. Afinal, os que embarcam no esquema limitam-se a
reproduzir um comportamento que, desde as mais altas esferas do Estado e
arredores, não só não vêem penalizado, como vêem, muitos vezes, premiado. O incómodo, o escândalo, a indignação parecem emergir apenas quando não se pode comer do pote.