José Frade/Museu do Fado
O regresso a esse novo estado de coisas que em nada se assemelha à normalidade tem-me custado mais do que a princípio supus. Pela vontade que não tinha de me encarcerar, mesmo consciente da
inevitabilidade das medidas ditas de confinamento e convencida da sua mais que
razoável necessidade. Entre o vai ficar tudo bem e o nada será como
dantes, há uma multiplicidade de estados que, ora me espantam, ora me
assombram e que ainda não aprendi a definir. Não que isso me preocupe em
demasia. Creio, aliás, que resultam dramas maiores quando nos deixamos
convencer, por culpa própria ou alheia, de que tudo carece de definições.
Percebi, no entanto, que se tornou muitíssimo mais fácil distinguir aqueles que
são realmente capazes de aguentar os nossos olhos. Ainda assim, anseio pelo
momento da libertação.
Entretanto, reconciliei-me com o fado. Não
sei bem quando, mas não é de agora. Foi um processo em crescendo, em pezinhos
de lã, a alma que cá dentro se acalma nos versos que não canto, mas ouço
cantar, nas notas que ouço tocar. E tocaram-se guitarras em homenagem a Amália.
100 guitarras por 100 anos. Ainda não tinha tido tempo para ouvir.