sábado, 4 de julho de 2020

Revelações

José Frade/Museu do Fado


O regresso a esse novo estado de coisas que em nada se assemelha à normalidade tem-me custado mais do que a princípio supus. Pela vontade que não tinha de me encarcerar, mesmo consciente da inevitabilidade das medidas ditas de confinamento e convencida da sua mais que razoável necessidade. Entre o vai ficar tudo bem e o nada será como dantes, há uma multiplicidade de estados que, ora me espantam, ora me assombram e que ainda não aprendi a definir. Não que isso me preocupe em demasia. Creio, aliás, que resultam dramas maiores quando nos deixamos convencer, por culpa própria ou alheia, de que tudo carece de definições. Percebi, no entanto, que se tornou muitíssimo mais fácil distinguir aqueles que são realmente capazes de aguentar os nossos olhos. Ainda assim, anseio pelo momento da libertação.


Entretanto, reconciliei-me com o fado. Não sei bem quando, mas não é de agora. Foi um processo em crescendo, em pezinhos de lã, a alma que cá dentro se acalma nos versos que não canto, mas ouço cantar, nas notas que ouço tocar. E tocaram-se guitarras em homenagem a Amália. 100 guitarras por 100 anos. Ainda não tinha tido tempo para ouvir.