quarta-feira, 23 de setembro de 2020

A propósito do "debate" entre João Cotrim de Figueiredo e José Gusmão

 

…que, por acaso, vi em directo, na SIC Notícias, e que tem feito algumas linhas.

Não tenho uma opinião totalmente formada sobre as vantagens e desvantagens da taxa única de IRS, eventualmente, de 15%, como propõe a Iniciativa Liberal. Não foi isso que retirei do tal “debate”. É que parece já ser difícil debater o que quer que seja com alguém com quem não estamos de acordo. 

Dois pontos, para início, a favor de Cotrim Figueiredo. A calma e a elegância no trato são qualidades que, à partida, ainda aprecio o suficiente, mesmo que me fique apenas por aí no apreço.

Não gostei nada de ouvir José Gusmão exaltar a “mentira” do “vão todos pagar menos”, quando a “mentira” reside, afinal, no facto de, em virtude da proposta da IL, não passarem a pagar menos IRS os que já actualmente pagam…zero. Certo, o vídeo promocional poderia ter feito referência a isso – todos, não é bem todos; são só todos os que, efectivamente, pagam IRS. Foi só por isto, o alarido?

Os mais ricos vão ter “borlas” fiscais, agitadas um par de vezes na argumentação de Gusmão. Cada vez tenho menos paciência para a linguagem rasteira nos espaços dedicados a coisas sérias, para discutir entre pessoas igualmente sérias. Começo a passar da impaciência à náusea. Chega-se ao fim e percebe-se que, quem fala assim, não está nada interessado em discutir coisa nenhuma. O debate está morto ainda antes das câmaras começarem a gravar. Assim, não vamos a lado nenhum, mas o objectivo é mesmo esse.

Como já disse, não sei bem se uma taxa única de IRS é mais vantajosa do que uma taxa progressiva que aparenta, pelo menos, ser mais justa em termos sociais. Mas, numa coisa, concordo com Cotrim Figueiredo: o problema não será tanto Portugal "ter ricos a mais", "é ter pobres a mais". E o facto de os mais ricos poderem a vir pagar menos impostos, não me choca particularmente, desde que, mais uma vez, esses impostos sejam sérios e justos. Para isso, há muito a fazer a nível da tal corrupção instalada, que não se pode dizer que está instalada porque é populismo (isto, isto, isto, etc, etc, etc, são só umas quantas, poucas, maçãs podres, nada que outros não tenham, não é alarme nenhum), e a nível do combate à evasão fiscal, nomeadamente, travestida de negócios bem embalados em linguagem jurídico-financeira, de preferência em inglês, e despachados para harmoniosos entre os seus pares paraísos fiscais: offshore, off the record, off de tudo o que permita esclarecer tudo o que seja importante esclarecer; of course.