quarta-feira, 9 de setembro de 2020

A quem incomoda Ana Gomes?

 


O PS não sabe o que fazer com o descaramento de Ana Gomes. Aliás, não é só o PS. A ex-deputada já provou, várias vezes, que sabe bem no que se mete e aguenta os golpes. Os outros é que talvez não. Acho giro, compararem-na ao André Ventura. "Siamesa" daquele e "gémea" de Trump, como dizia o dr. Júdice, há umas causas atrás, provavelmente, já a pensar nas consequências dos estragos que se avizinhavam. Afinal, a mulher é “perigosa para a democracia”, uma populista de elevado calibre. E é bastante parecido, escolher como alvo do combate ao assalto dos nossos impostos as minorias de ambos os lados, os amigos da Ana Gomes e os amigos de André Ventura. São tão parecidos, os amigos, que parecem gêmeos, já que falamos de árvores ideológicas, ou lá o que é.

Também há quem lhe aponte o estilo tuiteiro. Das insinuações maldosas, das acusações implacáveis mas rudes sobre a promiscuidade entre poder político, advogados de renome, empresários; uma espécie de nojo de estimação, visceral, às negociatas pouco claras, mesmo que muito legais. E, claro, a empenhada custódia que dedicou a Rui Pinto. O caso Rui Pinto é o meu calcanhar de Aquiles, com Ana Gomes. O que Rui Pinto denunciou não pode ser, simplesmente, ignorado, mesmo tendo sido obtido de forma criminosa. Mas, o facto de ter sido obtido dessa forma também não pode deixar de ser tido em conta. Rui Pinto não é um denunciante. Ou não é apenas um denunciante. É um pirata informático, inteligente e habilíssimo, que, provavelmente, numa fase inicial, tentou lucrar em benefício próprio e que, a dada altura – por um dever de rectidão epifânico ou por conselho de um advogado que pode ser muita coisa, mas não é estúpido –, se apercebeu que o melhor seria dar um passo atrás, enquanto ainda havia alguma volta a dar à coisa. Digo eu, sem fazer ideia nenhuma de como a coisa se terá passado.

De resto, Ana Gomes tem uma carreira sólida e parece temer pouca coisa; não está disposta a trazer ao colo os donos disto tudo mais os seus descendentes; menos ainda, se desconfiar da ambiguidade do dote ou do método de distribuição de bens e o que, eventualmente, deva ao PS não é suficiente para deixar de pensar – alto e bom som – pela sua própria cabeça, como faz questão de afirmar sempre que o considera necessário. A diferença é que, no seu caso, acredita-se.

Entretanto, André Ventura já emprestou ao anúncio da sua candidatura o insulto da praxe, a ameaça da treta e a bazófia do costume. Com a elegância e a integridade que se lhe conhecem. Ana Gomes deve estar-lhe agradecida. Quando os nossos inimigos esperneiam à nossa passagem, isso é sempre bom sinal.