O PS não sabe o que fazer com o descaramento
de Ana Gomes. Aliás, não é só o PS. A ex-deputada já provou, várias vezes, que
sabe bem no que se mete e aguenta os golpes. Os outros é que talvez não. Acho
giro, compararem-na ao André Ventura. "Siamesa" daquele e "gémea" de Trump, como
dizia o dr. Júdice, há umas causas atrás, provavelmente, já a pensar nas
consequências dos estragos que se avizinhavam. Afinal, a mulher é “perigosa para
a democracia”, uma populista de elevado calibre. E é bastante parecido, escolher
como alvo do combate ao assalto dos nossos impostos as minorias de ambos os lados, os amigos da Ana Gomes e os amigos de André Ventura. São tão parecidos, os amigos, que
parecem gêmeos, já que falamos de árvores ideológicas, ou lá o que é.
Também há quem lhe aponte o estilo
tuiteiro. Das insinuações maldosas, das acusações implacáveis mas rudes sobre a promiscuidade entre poder político, advogados de renome, empresários; uma
espécie de nojo de estimação, visceral, às negociatas pouco claras, mesmo que
muito legais. E, claro, a empenhada custódia que dedicou a Rui Pinto. O caso
Rui Pinto é o meu calcanhar de Aquiles, com Ana Gomes. O que Rui Pinto denunciou
não pode ser, simplesmente, ignorado, mesmo tendo sido obtido de forma
criminosa. Mas, o facto de ter sido obtido dessa forma também não pode deixar de
ser tido em conta. Rui Pinto não é um denunciante. Ou não é apenas um
denunciante. É um pirata informático, inteligente e habilíssimo, que,
provavelmente, numa fase inicial, tentou lucrar em benefício próprio e que, a
dada altura – por um dever de rectidão epifânico ou por conselho de um advogado
que pode ser muita coisa, mas não é estúpido –, se apercebeu que o
melhor seria dar um passo atrás, enquanto ainda havia alguma volta a dar à
coisa. Digo eu, sem fazer ideia nenhuma de como a coisa se terá passado.
De resto, Ana Gomes tem uma carreira
sólida e parece temer pouca coisa; não está disposta a trazer ao colo os donos
disto tudo mais os seus descendentes; menos ainda, se desconfiar da ambiguidade do dote
ou do método de distribuição de bens e o que, eventualmente, deva ao PS não é
suficiente para deixar de pensar – alto e bom som – pela sua própria cabeça,
como faz questão de afirmar sempre que o considera necessário. A diferença é que, no seu caso, acredita-se.
Entretanto, André Ventura já emprestou ao anúncio da sua candidatura o insulto da praxe, a ameaça da treta e a bazófia do costume. Com a elegância e a integridade que se lhe conhecem. Ana
Gomes deve estar-lhe agradecida. Quando os nossos inimigos esperneiam à
nossa passagem, isso é sempre bom sinal.