Há um casal
magnífico, com a filha, imagino, os dois vestidos de cores vibrantes como o
compasso soprado das ondas. Ele leva um turbante exuberante, em tons de lilás e
vermelho, o mesmo vermelho que ela exibe nas tranças que lhe caem pelas costas
onde a bebé repousa num marsúpio verde, matizado, em contraste com o vestido
branco, amoroso, de mangas curtas, de folhos. Ela de corpete preto, de renda, e
saia comprida, azul do mar que admira, manchada de rosas a meia perna e um
debrum laranja, a remate, radiante como um pôr-do-sol. Ele veste uma túnica
igualmente negra e umas calças de estilo tribal, largas, de amplas cornucópias
douradas sobre um fundo violeta-escuro. O sol aquece com ardor, e ela abre uma
sombrinha, de rebordo picotado, espalhando a usual estampa colorida de
elefantes da Índia, enquanto ele se apressa a ajudar, tomando-lha das mãos para
abrigar a menina da inclemência do meio-dia. Param por um breve instante, para
logo seguir caminho, os três, um caleidoscópio assimétrico, igualmente belo,
dando cor e forma à melodia que o mar não se cansa de tocar.
Era um outro tempo,
não muito distante, em que as crianças não tinham receio de se deitar no chão, de
se sujar e brincar, as mãos e a cara coladas no mármore para espreitar,
pasmadas, a magia daquele capricho de engenharia, conduzindo notas que nunca se
cansam, pautas que nunca se esgotam.
A minha amiga
fotografou-os. Ao belo casal com a sua bebé. Eu não fui capaz. Com medo de
quebrar encanto.