domingo, 3 de janeiro de 2021

Sobre não lutar com porcos. Ou, era para ser um debate presidencial.

Não vou perder muito tempo com os debates presidenciais. A política começa a ser um lugar demasiado mal frequentado.

Tinha, no entanto, interesse em ver alguns desses debates. O que aconteceu ontem entre o candidato João Ferreira e o pantomineiro André Ventura, não foi um debate, como eu já desconfiava, mas ultrapassou as minhas piores expectativas.

Não sei quem é a jornalista, ou moderadora, ou ambas as coisas, que aparecia ali no meio. A primeira vez que a vi foi a não moderar uma outra discussão quente (e a quente) – falava-se da matança na Herdade da Torre Bela e, nessa altura, o protagonista foi André Silva. Tal como André Ventura ontem, André Silva, embora gritando com mais classe, rapidamente percebeu que podia monopolizar à vontade a conversa que não havia ninguém para o mandar calar. Para tornar tudo mais caricato, um Miguel Sousa Tavares via Skype ou semelhante, trocou-lhe o apelido, Andrés há muitos, espalhafatosos também, e se dúvidas houvesse de que a coisa corria lindamente ao líder do PAN, era só ver-lhe a carinha de gozo.

De modo que, quando vi a senhora lá no meio, ontem, no tal debate, imaginei o pior. Estava enganada. Foi muito pior do que o pior que eu havia imaginado. Inacreditável. O que se passou ontem, apesar de assentar na melhor estratégia trumpista (mais do que populista ou demagógica) – falar precipitadamente, falar por cima, interromper constantemente, mandar umas bocas, o toca-e-foge clássico dos cretinos – juntou o inútil ao desagradável, apanhou o terreno fértil para a chafurdice: um candidato fácil de atacar por vários motivos e uma jornalista incapaz de moderar uma birra de recreio que fosse. Que só não foi isso, porque foi pior. O porco saiu divertidíssimo.

André Ventura tem a coragem dos cobardes, de modo que, não será tão arrojado frente a outros adversários. Creio eu, mas, nunca fiando. Aparentemente, a estratégia vai colhendo adeptos. Deixou de ser importante divergir, argumentar, contestar. O que anima as bases é a discussão de balneário. Não faltará muito para o cuspir no chão...

Sobra a parte positiva da coisa, ainda assim: alterei a agenda, mais ou menos, e não repetirei o intento.