Não tenho voltado à minha esplanada. Aquela de onde gosto de ver o mar atirar-se contra as rochas, em dias de sobressalto. A polícia não me deixa passar, mesmo que seja só para, dali, ver o mar. A esplanada está fechada e nem sei bem se resistirá à tempestade.
Levo no ouvido o Enjoy the Silence, dos Depeche Mode. Tive um colega, no secundário, que era absolutamente apaixonado pelos Depeche Mode. Foi através dele que os conheci, acho que ainda mal se falava deles por cá. Foi o meu primeiro contacto com essa espécie de loucura - irracional, como todas as loucuras, mesmo as que valem a pena - capaz de arrastar uma legião de fãs sob os pés dos seus ídolos, como náufragos. Tinha uma espécie de acordo tácito com os pais, o meu colega: em troca nunca cheguei a perceber bem de quê (se calhar, nem ele), conseguia que lhe importassem os discos de vinil acabados de sair. E, então, era uma imprudência.
Já não sei bem porquê, acabei por desistir de ir ao último concerto que deram em Portugal. Lamento-o desde então, e hoje mais ainda. Ainda não sei bem o que estes 11 meses fizeram de mim, mas prometi-me viver, viver. Viver o mais possível. Entre outras coisas, esse compromisso implica não voltar a adiar concertos a que queira muito assistir, quando pudermos voltar a assistir a concertos. E tentar não deixar nada de importante por dizer. Gosto muito do silêncio, mas, há momentos em que nem mesmo o silêncio me basta.