Odeio que me deixem
no pára-brisas aqueles papelinhos, Sr Fulano compra carros usados, de todas
as marcas, de todos os anos, paga em dinheiro, e mais umas quantas ameaças do género. Às
vezes, deixo-os ficar durante dois ou três dias. Enquanto está aquele não pousa lá
outro. Mas depois enervo-me. Além do ar desfigurado, não posso usar o
limpa-vidros. Ou aquela porra (escrevi porra?) fica toda colada, pegajosa,
numa papa nojenta que me desgraço a tentar remover com receio de estraçalhar uma
unha – coisa que odeio mais ainda do que os azucrinantes papeluchos como
pregadeiras ordinárias –, ou aquilo esvoaça como um desastrado ensaio de vôo num
avião de papel, e, aí, é como se eu própria o atirasse ao chão, coisa que
jamais faria; não faço. Como se não bastasse, vi um homem com uma daquelas
máscaras totalmente transparente. Eu sei da importância; sei mesmo. Da
necessidade associada à linguagem gestual, da expressão do rosto, da boca. Mas
fica-se com um ar medonho, muito pior do que deixar apenas descobrir-se os
olhos. Ou talvez não fosse da máscara, não sei. Não interessa nada, era só por
escrever qualquer coisa. Qualquer coisa que me afastasse um pouco do país e do
mundo, que me livrasse de pensar demasiado sobre verdadeiras desgraças.